Influências e Personalidades

I n f l u ê n c i a s


Philippe Pinel (1745-1826)


(...) há sempre um resto de razão no mais alienado dos alienados.


Sintonizado com os ideais revolucionários franceses de liberdade, igualdade e fraternidade, preconizou o tratamento moral para os alienados e desacorrentou os loucos em Paris. Sua prática médica exercida durante os anos em que chefiou os hospitais em Bicêtre e La Salpêtrière na França, aliada a sua profunda reflexão sobre a alienação mental, concorreram para inaugurar a Escola dos Alienistas Franceses.

Em 1801 publicou o "Tratado médico-filosófico sobre a alienação ou a mania", no qual descreveu uma nova especialidade médica que viria & a se chamar Psiquiatria (1847).




Esquirol (1772-1840) 

No hospício o que cura é o próprio hospício. Por sua estrutura e funcionamento, ele deve ser um operador de transformações dos indivíduos.



EsquirolPrecursor da Psiquiatria, integrou, juntamente com Auguste Morel (1809-1873) e Édouard Séguin (1812-1880) a escola francesa iniciada por Pinel. Ao penetrar a mente humana, com o intuito de compreender os transtornos do humor e da melancolia como importantes agentes que conduzem à perda do juízo, elevou pela primeira vez os alienados à condição de homens.
Reformador de asilos e hospícios franceses, fundou o primeiro curso para o tratamento das enfermidades mentais e lutou pela aprovação da primeira Lei de Alienados na França. Seu trabalho influenciou sobremaneira a criação do Hospício de Pedro II, primeira instituição brasileira de assistência aos doentes mentais.





Emil Kraepelin (1855-1926)


O manicômio deve diferir o mínimo possível de uma casa particular.

Emil KraepelinDiscípulo de Wilhelm Griesinger (1817-1868), integrou a corrente organicista alemã. Após a descrição acurada de sintomas clínicos, sua evolução e a análise anatomo-patológica, formulou sua doutrina que, expressa no livro “Psychiatrie”, serviu de referência a muitas gerações de especialistas em doenças mentais. Isolou as formas básicas da enfermidade psíquica: psicose maníaco-depressiva e demência precoce; e promoveu a separação entre demência senil e paralisia geral.
Dirigiu durante muitos anos a Clínica de Munique, onde buscou oferecer aos pacientes um ambiente semelhante ao doméstico, que influenciou a formulação da primeira legislação brasileira de assistência às doenças mentais.


Sigmund Freud (1856-1939) 

 

Suponhamos que um explorador chegue à região pouco conhecida, na qual as ruínas despertam seu interesse (...) ele poderá contentar-se em examinar a parte visível (...) Mas poderá atacar o campo das ruínas, praticar escavações e descobrir, a partir dos restos visíveis, a parte sepultada.

 


Depois de pesquisar técnicas de hipnose e de uma investigação rigorosa dos sonhos, verificou a existência de uma atividade psicológica inconsciente que extrapola a razão e a vontade dos pacientes.
Criou a psicanálise como método de tratamento das neuroses e fez com que o ato de ouvir não possa jamais se afastar da prática cotidiana em saúde mental. Suas idéias popularizaram-se em todo o mundo e se impuseram como marco no campo da saúde mental. Seu afã de penetrar os espaços recônditos do ser o levam à condição de “arqueólogo da psique”.





Franco Basaglia (1924-1980)


... a psiquiatria desde seu nascimento é em si uma técnica altamente repressiva que o Estado sempre usou para oprimir os doentes pobres...


Um dos psiquiatras mais discutidos no mundo, em função dos trabalhos que desenvolvia na Itália, em 1961 deixou a Universidade de Pádova para dirigir o Hospital Psiquiátrico de Gorizia.
Tendo como base a experiência da Comunidade Terapêutica desenvolvida por Maxwell Jones na Escócia, introduziu uma série de transformações naquela instituição e no Hospital Psiquiátrico Regional de Trieste, para onde se transferiu em 1971. Acabou com as medidas institucionais de repressão, criou condições para reuniões entre médicos e pacientes e devolveu ao doente mental a dignidade de cidadão. Seu livro “A Instituição Negada” é considerado uma obra-prima da Psiquiatria contemporânea.
Visitou o Brasil na década de 70, tornando-se uma figura emblemática na questão da luta antimanicomial brasileira.



P e r s o n a l i d a d e s



Teixeira Brandão (1854-1921)


Teixeira BrandãoEm 1883 assumiu a Cátedra de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sendo, por essa razão considerado o primeiro alienista brasileiro. Como diretor do Hospício de Pedro II (1886), desanexou essa instituição da Santa Casa de Misericórdia e, em 1890, fundou a primeira Escola de Enfermeiros e Enfermeiras do Brasil.
Tornou-se deputado federal em 1903 e relatou a Lei de Assistência aos Alienados, primeiro documento legal específico sobre alienação mental, baseado na legislação francesa e inspirado nos preceitos defendidos por Esquirol, de quem Teixeira Brandão foi fiel seguidor.
Na qualidade de diretor da Assistência Médico-Legal aos Alienados, iniciou a construção das colônias de alienados, que surgem como alternativas ao modelo adotado na época.



Juliano Moreira (1873-1933)



Juliano MoreiraNomeado diretor do Hospital Nacional de Alienados, ocupou o cargo por mais de 20 anos, acumulando-o com o da Direção Geral de Assistência a Alienados. Poliglota, tornou-se capaz de assimilar, de forma abrangente, as influências européias no campo da psiquiatria. Suas medidas de impacto, como a incineração de camisas-de-força e a criação de espaços para diálogo com os pacientes, conferiram novos rumos à psiquiatria brasileira.
Apoiado na primeira lei brasileira que dispõe sobre a assistência a alienados e em sua experiência na Europa, projetou uma rede de serviços interligados em saúde mental, nos moldes da Clínica de Munique, dirigida por seu inspirador, o psiquiatra alemão Emil Kraepelin.
Durante sua administração, criou a maior biblioteca de Psiquiatria da América do Sul, escreveu inúmeros trabalhos científicos e editou os Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (1905).
A mudança da denominação de Colônia de Alienados de Jacarepaguá para Colônia Juliano Moreira vem homenagear este psiquiatra e sua contribuição inestimável para a Psiquiatria brasileira.




Ulysses Pernambucano (1892-1943) e Luiz Cerqueira (1911-1984)


Ulysses Pernambucano e Luiz CerqueiraIncansável em suas lutas, Ulysses Pernambucano, empreendedor de uma Psiquiatria politicamente engajada, dirigiu o Hospital da Tamarineira - Pernambuco, em que os pacientes, não mais contidos nos leitos, ocupavam-se da praxiterapia. Além das inúmeras contribuições no campo da Psiquiatria e da Psicologia Social, destacou-se pelos trabalhos no campo das drogas entorpecentes e alucinogênicas, dos testes psicológicos e nas pesquisas de laboratório e áreas clínicas e psicopatológicas.
Discípulo de Ulysses Pernambucano, Luiz Cerqueira, um pioneiro da desospitalização psiquiátrica, criou, como Coordenador de Saúde Mental do Estado de São Paulo, o Centro de Atenção Diária (1973). Além de docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e autor de vários livros, dentre os quais “Psicologia Social”, destacou-se pelo trabalho incansável de levantamentos sobre as condições da assistência à saúde mental no Brasil e, sobretudo, pela denúncia dos rumos mercantilistas da atividade psiquiátrica que qualificou de “indústria da loucura”.




Wilson Simplício (1924-2001) e Oswaldo Santos (1933-2000)


Inovadores da Psiquiatria brasileira, trabalharam no Centro Psiquiátrico Pedro II, atual Instituto Municipal Nise da Silveira, durante os anos de ditadura militar.
Quando assumiram suas tarefas na instituição, a Psiquiatria confundia-se com repressão e cárcere; a rotina das enfermarias era ócio, abandono, insalubridade, eletrochoques; e injeções eram freqüentemente aplicadas.
Com base em experiência já testada na Clínica Pinel em Porto Alegre, desenvolviam o modelo das Comunidades Terapêuticas, que tinham como fundamento a descentralização do poder entre as equipes médicas e os internos. Registradas pelos próprios pacientes nos livros de ocorrência, as idéias eram valorizadas, incentivando-se a criatividade e as qualidades de cada um.
Apesar de não questionar a existência dos hospícios, a experiência constitui um importante marco de liberdade e democracia no tratamento da saúde mental no Brasil.



Nise da Silveira (1905-1999)

 

Revolucionária para a época e inconformada com os tratamentos que considerava desumanos e agressivos, encontrou nas atividades artísticas o seu principal método terapêutico. Adepta das idéias do mestre suíço Carl Jung no aprofundamento dos processos que se desdobram no interior dos indivíduos, tem nos trabalhos dos seus pacientes uma nova abertura para melhor compreensão da psicose e dos conteúdos que daí emergem, revelados por meio das imagens e dos símbolos.
Entre os anos de 1946 e 1974, a psiquiatra alagoana dedicou-se ao Centro Psiquiátrico Nacional, posteriormente denominado Centro Psiquiátrico Pedro II, onde fundou e dirigiu a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR).
Em 14 de julho de 1975, aos 69 anos, foi aposentada compulsoriamente. No dia seguinte, reapresentou-se ao Centro Psiquiátrico dizendo: “sou a nova estagiária”.
Os produtos de seus pacientes, recolhidos dos ateliês de pintura e modelagem durante anos, integram, a partir de 1952, o acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, que, segundo Ronald Laing (1976), “representa uma contribuição de grande importância para o estudo do processo psicótico”